Quando falamos sobre diversidade nas empresas, muitas vezes essa discussão vem acompanhada do reconhecimento de que são necessárias melhorias nesse aspecto. Os líderes geralmente estão bem cientes dos benefícios sociais desse tipo de postura corporativa, e tais benefícios já foram comprovados por meio de pesquisas. Dentre os resultados que podemos esperar dessa postura está a maior capacidade de inovação e o consequente aumento no retorno financeiro.
Entretanto, para muitas empresas, atingir esse equilíbrio de diversidade nas empresas provou ser mais difícil do que esperado. No recrutamento e seleção, por exemplo, muitos gestores não estão preparados para se despir de velhas tradições e promover processos seletivos mais plurais. Como reação, muitas empresas criaram estratégias específicas de Diversidade e Inclusão (D&I), mas isso não é uma solução permanente para o problema.
Antes de adotar qualquer nova política, é preciso olhar para trás e analisar onde a corporação estava errando. E isso não é algo feito com regularidade pelas empresas, conforme aponta um estudo realizado pela consultoria Kisi.
Para ajudar os líderes a entenderem melhor a complexidade da questão, a Kisi elencou os quatro principais elementos da diversidade, que nos ajudam a entender os benefícios e desafios que essa pauta traz para o mundo corporativo.
Quatro pontos sobre diversidade nas empresas
O estudo da Kisi chegou a quatro conclusões sobre esse tipo de política. São elas:
- Equipes que possuem um alto nível de diversidade apresentaram um aumento de 19% nos lucros oriundos da inovação;
- Para cada 100 homens que são alocados para cargos de liderança, apenas 72 mulheres são promovidas ou contratadas;
- Ambientes de trabalho que aceitam, respeitam e integram a comunidade LGBT apresentam maior bem-estar, maior satisfação com o emprego e melhores relacionamento entre os colegas de trabalho e líderes;
- Cerca de 64% dos trabalhadores já presenciaram ou sofreram discriminação por conta da idade;
- Empresas de alta performance possuem 37% mais probabilidade de contratar pessoas com algum tipo de deficiência.
Embora alguns desses pontos indiquem que não houve progresso suficiente, é importante os observar para entender o que está acontecendo no mercado. Afinal, ao identificar os erros, conseguimos elaborar estratégias que criem um ambiente mais plural e acolhedor.
Diversidade e inovação
“Culturas corporativas diversificadas e inclusivas estão proporcionando às empresas uma vantagem competitiva sob seus pares.” Essa citação resume as conclusões do primeiro ranking corporativo do The Wall Street Journal que examinou a diversidade e a inclusão entre as empresas do grupo S&P 500 – um dos principais índices da bolsa de Nova York e NASDAQ.
Mas, além dos pontos que já mencionamos, como a diversidade e inclusão gera resultados para as empresas. A professora da Columbia Business School, Katherine Phillips, em entrevista para a Forbes, responde essa pergunta. “A diversidade nas empresas nos empurra para a ação cognitiva de uma forma extremamente eficiente. Esse tipo de efeito não é notado em ambientes homogêneos.” Em outras palavras, um ambiente diverso dá mais capacidade criativa para os colaboradores.
Phillips é autora de uma das inúmeras pesquisas sobre o assunto publicadas no periódico científico Scientific American. Em seu estudo, a especialista analisa como um ambiente diverso deixa os funcionários mais inteligentes.
O motivo para isso acontecer é bem simples: um local onde todos pensam igual é tomado pela mesmice. Logo, as conclusões serão sempre as mesmas. Quando pessoas diferentes, com experiências distintas e repertórios culturais que destoam entre si se encontram, o resultado é a abertura de novos caminhos para se pensar.
Claro, chegar a um consenso vai ser mais difícil. Mas isso não é uma coisa negativa. A dificuldade faz com que as pessoas se esforcem mais para comunicar seus próprios pensamentos e as obrigam a ampliar seu pontos de vista. Esses que são pontos fundamentais para qualquer processo de inovação.
Os quatro tipos de diversidade nas empresas
A Kisi também elencou os quatro tipos de diversidade nas empresas que precisam estar presentes no ambiente de trabalho. São eles:
De etnia/raça
O termo “etnia” ou “raça” pode ser muito confuso para outras pessoas. Mas precisamos ser claros quanto a isso: não estamos falando sobre características biológicas, mas sobre o contexto cultural e histórico de um indivíduo.
Um estudo realizada em 2015 pela consultoria McKinsey mostrou que, entre mais de 300 companhias públicas, aquelas mais diversas racialmente também eram 35% mais propensas a ter maiores retornos financeiros.
Não apenas as equipes etnicamente diversificadas são mais lucrativas, mas também há uma correlação significativa entre a diversidade da liderança e a produção geral de desses negócios. As empresas que declararam ter diversidade acima da média em suas equipes de gestão relataram que 45% de sua receita total veio da inovação, enquanto as empresas com pontuações de diversidade abaixo da média relataram apenas 26%. Empresas mais inclusivas também demonstram ser capazes de evoluir e se adaptar às demandas dos consumidores de forma mais eficiente.
De gênero
Embora a igualdade de gênero tenha sido um problema no mercado de trabalho por décadas, um pouco de progresso foi feito nos Estados Unidos durante os últimos anos. Atualmente, apenas 33 líderes de empresas Fortune 500 são mulheres. Entretanto, mesmo os homens ainda representando 93,4% dos CEOs da lista das empresas mais valiosas do mundo, ainda assim é o número mais alto de líderes mulheres já registrado na história.
Semelhante à disparidade na diversidade étnica e racial, o problema com a igualdade de gênero geralmente começa nos processos de admissão e contratação de nível médio. Para as mulheres, a ascensão na hierarquia corporativa para uma posição de liderança geralmente é interrompida nessa etapa precoce em favor de seus colegas homens.
De acordo a McKinsey, para cada 100 homens promovidos a um cargo de gerente, apenas 79 mulheres receberam a mesma promoção. Esse não é apenas um problema de inclusão, mas afeta diretamente a estratégia das empresas.
Incorporar mais mulheres no local de trabalho não serve apenas ao propósito de ser mais inclusivo; empresas com foco na promoção de mulheres tendem a ser mais lucrativas. O centro de pesquisas econômicas norte-americano Peterson Institute for International Economics concluiu, em um estudo realizado com mais de 20 mil empresas de capital aberto, que o número de mulheres em cargos executivos se correlacionava com o aumento das taxas de receita e lucros.
De orientação sexual
Um estudo realizado pela consultoria Out Now mostrou que mais de 40% dos profissionais que se identificavam como lésbicas, gays ou bissexuais já sofreram discriminação no local de trabalho. Com os colaboradores transgêneros a situação é ainda pior. Cerca de 90% dos entrevistados relataram que já sofreram algum tipo de assédio no ambiente de trabalho.
Esse mau tratamento não é apenas prejudicial para a comunidade LGBTQ, mas também pode ter um efeito negativo nos resultados financeiros da empresa. Se estima que o poder de compra desse público nos Estados Unidos é de US$ 800 bilhões.
A pauta da diversidade nas empresas, quando falamos do público LGBTQ, se estende muito além dessa comunidade. Um estudo realizado pelo Allegis Group descobriu que 72% dos profissionais que buscam recolocação no mercado de trabalho preferem trabalhar em um emprego que respeite e acolha a comunidade LGBTQ. Já lugares menos inclusivos geralmente são vistos com maus olhos pelos candidatos.
De idade
As pessoas portadores de deficiências (tanto físicas, quanto cognitivas) talvez sejam o grupo mais subestimado do mercado de trabalho. Nesse quesito, eles se unem com as pessoas de idade mais avançada, que também estão gradativamente perdendo espaço nas empresas.
No caso da idade, um cenário problemático se monta. A expectativa de vida da população está aumentando de maneira contínua. Portanto, o trabalhador médio não está se aposentando tão cedo quanto costumava. De acordo com uma pesquisa realizada pela consultoria Pew Research, cerca de 20% das pessoas com mais de 65 anos trabalhavam em 2016. No final de 2019, mais de 40% das pessoas com mais de 55 anos ainda estavam trabalhando. Isso significa que mais de 25% da força de trabalho dos Estados Unidos era constituída por pessoas mais velhas. Um número tão grande que não pode ser ignorado.
Por outro lado, em alguns setores (em especial, o de tecnologia), a juventude ainda é um sinônimo para inovação. Afinal, é mais fácil que nativos digitais tenham conhecimentos mais aprofundados nesses assuntos. O resultado dessa falta de diversidade nas empresas, conforme mostra uma pesquisa realizada pela plataforma de seleção Indeed, é que uma espécie de “ditadura da idade” está se formando. Cerca de 43% dos trabalhadores norte-americanos do setor de tecnologia temem perder seus empregos por conta da idade.
Isso entra na discussão já abordada: esses trabalhadores possuem uma bagagem cultural muito mais complexa e rica. Logo, seria produtivo para as corporações os excluir de seu quadro de funcionários? Isso não representaria uma perda de capacidade de inovação e, consequentemente, de lucros?
Como adotar políticas de diversidade nas empresas
Para grandes empresas, a solução é: planejamento e estratégia. Mas nada disso vale se você não metrificar os seus resultados. Implementar uma política de contratação de funcionários negros, por exemplo, de nada vale caso a empresa não seja capaz de se certificar que ela realmente está dando resultados.
Também são necessárias mudanças nas políticas corporativas e, acima de tudo, cultura. É necessário que seja criado um ambientes de pluralidade, discussão e crescimento. Logo, só contratar não é o bastante.
Esses conselhos também valem para pequenas e médias empresas. Mas elas contam com uma solução adicional: trabalhar em um coworking. Esse tipo de ambiente, por natureza, já é estruturado de forma que a diversidade seja presente. Diferentes profissionais, de diferentes setores de atuação diferentes se encontrar e colaboram nesse tipo de ambiente. Esse tipo de troca garante o intercâmbio de conhecimento necessário para impulsionar seus processos de inovação.