O que você pensa quando ouve a palavra “coworking”? Provavelmente em trabalho cooperativo, networking, inovação e estímulo à criatividade. E você não está errado em ver esse tipo de negócio dessa forma. Na verdade, esses espaços foram pensados justamente para estimular essas ideias. Mas, para você entender isso, precisa entender a história do coworking.
Neste artigo vamos falar sobre:
- O que é um coworking?
- Onde começa a história do coworking?
- A era “pré-coworking”
- Os 4 pontos essenciais para o surgimento do coworking
- O início da febre em coworkings
- O pico do movimento
- E como a crise afetou os coworkings?
E não pense que essa leitura é apenas uma forma de entretenimento. É essencial conhecer a história do coworking para entender suas propostas e características. E, mesmo que você não vá adotar esse modelo de trabalho, não pode negar sua importância. Afinal, é um mercado que movimentou 26 bilhões de dólares em 2019.
1. O que é um coworking?
Vamos por partes. Antes de entender a história do coworking, precisamos deixar claro qual é a proposta desse modelo.
Diferentes autores apresentam diferentes visões desse tema. Um exemplo é a visão de Genevieve V. DeGusman, escritora, editora e principal autora do livro Working in the “UnOffice”: A guide to Coworking for Indie Workers, Small Business, and Nonprofits (2011). Na obra, ela afirma que a melhor forma de definir o coworking é como uma “configuração de ambiente de trabalho”. Essa configuração de caracteriza por unir pessoas que não trabalham necessariamente para a mesma empresa em um mesmo espaço com os mesmos recursos.
Por outro lado, Alessandro Gandini, pesquisador da Middlesex University de Londres apresenta em seu trabalho The rise of coworking spaces: A literature review – Ephemera: Theory and Politics in Organizations(2015) outro conceito.
O especialista vê o coworking não como uma configuração de ambiente para as empresas. Segundo ele, o espaço é focado em indivíduos. Assim, o coworking é uma forma de reunir diferentes tipos de profissionais, como freelancers e CLTs, de diferentes diversos graus de especialização em diversos setores do mercado.
2. Onde começa a história do coworking?
Nenhuma ideia vem do zero, não é mesmo? A história do coworking também não se inicia apenas quando o primeiro espaço do tipo foi inaugurado. Mas bem antes!
No início do século XX, houve uma grande massa de migrações para as cidades devido a todo processo do desenvolvimento industrial. Esse fenômeno, conhecido como êxodo rural, é um dos grandes responsáveis pela formação dos polos econômicos que vemos hoje, como São Paulo e Nova York.
Além disso, esse aumento de pessoas estimulou um processo arquitetônico que conhecemos como “verticalização”. Como o próprio nome já sugere, as casas deixaram de ser apenas casas, se tornando “estruturas verticais”. É apenas uma forma complicada de dizer que começamos a construir mais prédios.
Quanto mais pessoas chegavam e mais negócios eram criados, essa demanda por prédios também aumentava. Mas apenas ter um espaço para trabalhar não era o suficiente. Era necessário um lugar em que
os colaboradores conseguissem chegar facilmente e, acima de tudo, ficasse próximo dos clientes.
Também precisamos considerar que existe um número limitado de prédios que podem ser construídos. Isso estimulou o que hoje conhecemos como “especulação imobiliária”. É ela que faz prédios bem estruturados e em ótimas localizações serem tão caros.
Esse processo começou em grandes cidades no início do século XX, mas no Brasil foi um pouco mais tarde. Em cidades como São Paulo, por exemplo, isso só ganhou impulso na década de 1980.
Foi com base em todo esse conceito que o empreendedor Frank Lloyd Wright criou seu primeiro edifício considerado como escritório “aberto”, em 1903.
3. A era “pré-coworking”
Floyd pode ter descoberto que é possível fazer várias empresas diferentes compartilharem o mesmo espaço comum. Mas isso ainda não era o que conhecemos hoje como coworking. A praticidade, estímulo, infraestrutura e custo-benefício que os escritórios compartilhados possuem nos dias atuais não estavam na ideia do magnata norte-americano.
Mas isso estava para mudar na década de 1980. A forte recessão que abatia os Estados Unidos e Europa forçava as empresas a buscarem formas de reduzirem seus custos. Por exemplo, algumas delas chegaram ao ponto de quebrar paredes para conseguir colocar mais pessoas em um mesmo lugar.
Por outro lado, era o início da era da internet. Com ela, veio a maior agilidade dos processos no ambiente corporativo, a menor necessidade presencial do funcionário e a autonomia das equipes.
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4. Os 4 pontos essenciais para o surgimento do coworking
Os coworking, como começamos hoje, surgiram no final da década de 1990. Aliás, isso provavelmente só foi possível por conta da Internet já estar mais estruturada e potente.
De início, foram diversas iniciativas diferentes a adotarem o modelo. Cada uma com suas características e sistemas diferentes.
Sistema de Bernie DeKoven
Um dos vanguardistas foi Bernie DeKoven, um designer e teórico de jogos americano. Ele surgiu com esse novo conceito de trabalho em 1999.
DeKoven queria criar novo tipo de plataforma automatizada, que coordenasse o trabalho de seus colaboradores. Além de promover agilidade, ele queria botar em prática a ideia de “working together as equals”, ou “trabalhando junto como iguais”. Esse sistema tinha o objetivo de criar uma colaboração de trabalho em reuniões de negócios. De modo que, ele informava aos membros presentes na reunião quais eram as notas mais importantes de forma simultânea e visíveis a todos.
Isso bania o ambiente em que apenas executivos tinham acesso a esse tipo de dinâmica. Muito além disso, com todos os colaboradores na mesma página, se tornava muito mais fácil resolver problemas e apresentar soluções. Consegue notar alguma similaridade disso com os coworkings?
Criação do primeiro Hackerspace
Além dos pensamentos de Bernie DeKoven, outra ideia muito importante para a história do coworking aconteceu na década de 90: a criação do primeiro hackerspace. Esse lugar ficou conhecido como C-base. Sendo fundado em 1995 em Berlim, Alemanha.
Era um espaço comum, destinado para pessoas interessadas em tecnologia, ciência e ficção científica. Além de poderem trabalhar juntas, elas eram estimuladas a trocar conhecimento.
Demanda do Vale do Silício
E por fim, Andy C.Pratt, professor e pesquisador da Universidade de Londres, em seu artigo Hot Jobs in Cool Places. The Material Cultures of New Media Product Spaces: The Case of South of the Market, San Francisco (2002), soma essas ideias. Segundo ele, o Vale do Silício, devido ao seu grande desenvolvimento tecnológico e de técnicas inovadoras, criou uma demanda de um “espaço de produto” contemporâneo.
Esse novo espaço, para as empresas de tecnologia, foi uma união das ideias de BeKoven e o que foi aprendido no Hackerspace. Essas empresas projetaram ambientes mais horizontais, inovadores e colaborativos. Tudo isso impactou em seus modelos de negócios, permitindo um produto com mais valor e processos mais ágeis e criativos.
A consolidação do modelo de coworking
Nessa altura do campeonato muitas empresas possuíam ou trabalhavam em um coworking, só não sabiam. Porém, o termo começou a ganhar forma em 2005.
Foi nesse ano que Brad Neuberg, engenheiro de software americano, fundou um ambiente inovador que buscava compartilhar espaços de trabalho em um centro comunitário voltado às mulheres, chamado Spiral Muse.
Com uma capacidade de cinco a oito mesas destinadas a trabalho, a mulheres da região poderiam ocupar o espaço em duas vezes por semana. Assim, Neuberg supria a demanda dessas pessoas por um lugar tranquilo, afastado da família e outras distrações.
O “coworking” de Neuberg também contava com características peculiares; tais como atividades relacionadas a meditação, alimentação e até mesmo programação de passeios de bicicleta. No fim, nem tudo era sobre trabalho. Mas também sobre o bem-estar de quem ocupava aquele espaço.
Tudo culminou no que hoje conhecemos como coworking.
Mas afinal. O que é coworking? Alessandro Paes dos Reis, mestre em Administração de Empresas e um dos idealizadores da Mango Tree, sintetiza em seu artigo “Modelos de Negócios em Coworking” exatamente o que hoje esse termo significa. Coworking é um movimento de trabalho em conjunto e colaborativo em que, apesar de não estarem ligados por uma mesma empresa, trabalhadores dividem juntos, um mesmo ambiente físico. Simples, não?
Os coworkings no Brasil
O ano foi 2008. Sendo mais específico, no dia 1º de outubro de 2008,. Nesse dia, surgiu o Ponto de Contato, o primeiro coworking criado por brasileiros. Inicialmente uma ideia pequena, com apenas 16 lugares, na Rua Fradique Coutinho, em pouco tempo ele viu sua demanda explodir. Não demorou muito para o espaço mudar de lugar, ocupando lugar na Rua Augusta e contando com 110 lugares.
Por outro lado, esse não foi o primeiro coworking que tivemos no Brasil. Pouco tempo antes, Henrique Bussacos e Pablo Handl trouxeram a atual marca Britânica Impact Hub para o Brasil. Na época essa marca era conhecida como The Hub e possui o título de coworking mais antigo no país.
Coworking day
Um fato muito interessante é que o engajamento da comunidade coworker pelo mundo fez coisas incríveis, como o coworking day. Ele surgiu em 2009, quando Cadu de Castro Alves, na época membro do BeesOffice, criou o primeiro fórum de discussões sobre coworking em português.
De modo que, esse fórum passou a servir de base de informações e dicas de negócios para muitas pessoas por todo país. O engajamento e união da comunidade foi tamanho eles criaram, no dia 9 de agosto, é Coworking Day, que celebra esse modelo de negócios.
A escolha da data representa quando Brad Neuberg falou sobre o movimento pela primeira vez.
5. O início da febre em coworkings
Fóruns por todo o planeta
O coworking foi ganhando tanto espaço que, além do fórum criado pelo Cadu no Brasil, diversos outros surgiram pelo mundo e tiveram uma grande aceitação da comunidade.
Por exemplo, em 2010 houve a primeira edição do Coworking Europe Conference, em Bruxelas. Que contou com mais de 150 fundadores de coworking de todo o mundo. E que na última edição já conta com mais de 600 participantes.
Ou ainda, na Alemanha e no Brasil surgiram, respectivamente, a Deskmag e o Movebla. Que são importantes grupos que fornecem publicações digitais sobre coworking. E dessa forma, colaboram para o acompanhamento do mercado e regulação do assunto em ambiente nacional e internacional. E é preciso mencionar isso para entendermos a história do coworking. Esses movimentos representam o quanto esse mercado gerou uma cultura de diálogo e colaboração.
Outro fato muito interessante aconteceu em 2011. Neste ano, foi realizado o primeiro investimento anjo por um espaço coworking, o NextSpace. O coworking colaborou com o valor de $425 mil dólares para alavancar uma pequena empresa dos Estados Unidos. Isso mostra como ambientes coworking podem ser fontes de networking, capazes até mesmo de colaborar com novos empreendedores. Isso também deu vazão para modelos de coworking muito cobiçados hoje: aqueles que oferecem aceleração e mentoria.
Números crescente
Então, em 2013, segundo o Coworking Brasil, plataforma que busca unir coworkers e espaços por todo país. Estimou que 100 mil pessoas utilizem um dos 3 mil espaços de coworking existentes pelo mundo.
Além disso, os fóruns de coworking e outras iniciativas começam a acontecer também por todo o globo. Por exemplo, a Ásia que teve seu primeiro fórum realizado no Japão e os seguros de vida para Coworkers surgiram no Canadá.
E assim, em 2015, dois anos depois, chegamos à estimativa de que 295 mil pessoas já são coworkers e frequentam um dos 6 mil espaços existentes. Isso representa um crescimento de quase 300% em relação a 2013. Tendo até mesmo casos extremos como o da WeWork, que possuía mais de 10 mil membros em sua rede neste ano. Incrível, né?
O primeiro Censo
Com esse crescente peso dos coworkings chegando, mais um marco para o universo coworking acontece. Surge o Censo Coworking Brasil. Esse estudo mapeou todo o mercado no Brasil.
Projeto esse, produzido pelo Movebla junto com o B4i – empresa sem fins lucrativos voltadas a coworkings -, estimou que em 2015 o país já contava com 238 espaços de coworking.
As gigantes adotam modelos de coworkings
Os últimos 5 anos, como nunca antes, foram incríveis para esse movimento. Até mesmo grandes empresas passaram a adotar o coworking em seus modelos de negócios. É isso que aponta o jornal Inc.com. De acordo com o relatório publicado pelo veículo, em 2015, 30% (ou 3000) dos funcionários da gigante da tecnologia Microsoft se moveram para espaços colaborativos da WeWork, em Nova Iorque.
Além da gigante de tecnologia, como aponta Sandy Li do jornal SCMP, o tradicional banco HSBC seguindo o mesmo caminho. Esse movimento mais tarde se mostrou estratégico: o banco economizou 23 mil dólares por funcionário em sua filial de Hong Kong.
6. O pico do movimento
O estudo Coworking Survey mostrou que, em 2017, mais de 1 milhão de pessoas frequentavam espaços coworking ao redor do mundo. Isso representou um crescimento de 1000% se comparado com relatórios de 2013.
Ainda nesse relatório, podemos notar que no Brasil concentrou um total de 1497 coworkings conhecidos. São Paulo se excedeu na pesquisa, sendo a cidade com maior número de coworking no mundo todo!
Em 2019, conforme aponta o Relatório de Tendências de Busca do Google, o termo “coworking” atingiu seu auge histórico. Em uma escala de 0 a 100, ele atingiu um indicador interesse de 95. Hoje, mesmo com a crise, esse número de buscas incrível continua crescendo, atingindo 70 na escala da empresa de tecnologia.
7. E como a crise afetou os coworkings?
Com a pandemia do coronavírus, a economia global sofreu danos que irão continuar por décadas.
O mercado de coworking não se eximiu disso. Conforme aponta Fernando Aguirre, membro do Coworking Brasil, no início da quarentena 96% do mercado foi forçado a parar de alguma forma. No trimestre seguinte 40% dos espaços coworking perderam mais de 75% do seu faturamento.
Toda situação difícil exige soluções. A Mango Tree, por exemplo, resolveu se adaptar a esses novos tempos oferecendo soluções que flexibilizassem e trouxessem conforto para o profissional. O escritório virtual está entre essas soluções, permitindo que os funcionários tenham acessa às ferramentas do espaço de forma remota.
Esse período também irá entrar para a história do coworking. Ele mostra como esse modelo de negócios é adaptável, conseguindo prover praticidade e preços baixos até mesmo em um período de crise.